sábado, 26 de junho de 2010

DESCULPAS

Meus fiéis leitores podem constatar que em crônicas mais recentes venho lembrando da importância da minha conversão ao Cristianismo – ou por outra, minha tentativa diária de conversão ao Cristianismo. Alguns ex-colegas, se agüentarem ler estar linhas, podem até debochar disso, imaginando-me um fanático, rezando ajoelhado por todo meu tempo livre. Mas, na verdade, o desejo de conversão ao Cristianismo é um exercício de humildade e autoconhecimento, feito diariamente. Lendo e relendo algumas lindas passagens do Novo Testamento, sentimos vontade nós mesmos de nos tornarmos uma pessoa melhor, ou menos ruim, do que fomos no passado. Não é um exercício fácil, o de seguir os ensinamentos morais de Jesus. Não é uma tarefa fácil reconhecer as próprias mazelas morais, e lutar constantemente contra elas. Dentre os ensinamentos cristãos, num deles em especial, me vejo ainda muito distante de sua prática: aquele que nos incentiva a perdoar nossos inimigos – mais do que isso, a perdoar e a rezar por eles, pedindo a Deus que lhes toque os corações e os faça pessoas melhores. O exemplo máximo dessa idealização, é o do próprio Cristo que, a caminho do madeiro desolador, humilhado, escarrado, chicoteado, ferido, não demonstrou um momento de ódio sequer. Muito ao contrário, pediu ao Pai que perdoasse seus algozes, pois eram doentes que não sabiam o que estavam fazendo. Este é o exemplo prático, histórico, que nos deixou Jesus, da necessidade da busca do perdão para os inimigos.

Pois bem, como eu lhes disse, ainda estou longe, muito longe de atingir esse ideal cristão. Para meu próprio desgosto, eu mesmo me dei conta disso, de forma atrasada, de que, além de não conseguir perdoar quem me prejudicou no passado, eu lancei sobre estes irmãos fagulhas de ódio e raiva, e pior, ainda lhes apontei o dedo e os julguei como se eu tivesse autoridade moral para isso, pra julgar quem quer que seja, bem como aos erros & defeitos alheios. Tenho-os eu mesmo em irritante abundância, e com eles devo me preocupar, antes de ficar apontando o dedo e fulminando de ódio, este ou aquele irmão de caminhada. Com esta crônica começo a me penitenciar por estes pecados cometidos recentemente. E me refiro, mais especificamente, as coisas que venho escrevendo a respeito dos ex-editores e colaboradores das revistas udi-grudi, Chiclete com Banana e etc.

Reconheço que as crônicas que escrevi a respeito das obras destas pessoas, acabaram sendo desagradáveis até mesmo para aqueles que gostam de mim. Eis-me aqui agora, de forma muito menos arrogante, pedindo desculpas a todos. Muito indevidamente, de forma nada cristã, eu transformei as palavras escritas naquelas crônicas em pequenos atos de vingança, coisa evidentemente mesquinha, atitude da qual eu mesmo assumo toda vergonha, toda culpa, toda burrice de ter não só escrito daquela forma agressiva, e indevida, mas também por ter tornado públicos tais escritos. Estava jogando sobre os ombros de vocês, editores udi-grúdi, o resultado de minha própria imprevidência. Ainda que vocês tenham me incentivado a levar uma vida plena de vícios, vícios morais principalmente, a grande culpa de minha derrocada ter acontecido é de uma pessoa somente: eu mesmo. Reconheço que nenhum de vocês, editores e artistas udi-grúdi, tenha colocado um revólver na minha cabeça, para que eu fizesse todas as burradas pessoais e profissionais que cometi em minha vida. É evidente que fui eu mesmo meu próprio algoz quando, no passado, ao invés de já ter começado a percorrer os caminhos do Cristo, eu escolhi tudo aquilo que nos afasta da verdadeira felicidade: as coisas mundanas, os prazeres fugazes, o hedonismo, a perversão, os vícios. Fui eu quem trilhei estes caminhos seguindo meu deturpado livre-arbítrio – deturpado por mim mesmo, de escolhas turvas feitas no passado. E, como vocês perceberam recentemente, passado do qual ainda não consegui me livrar totalmente. E estas mágoas, que eu mesmo provoquei, acabei transformando naqueles textos inadequados, e agressivos, que escrevi a respeito da obra dos editores udi-grúdi.

Algo totalmente desnecessário que fiz, escrever e publicar aqueles textos – pelo menos da forma como o fiz. Agora já está feito, só me resta pedir desculpas por tê-los publicado. Pedir desculpas principalmente ao Divino Pai Eterno, pois faltei com o respeito a meus irmãos, atacando e julgando alguns, entristecendo a outros. Eu os julguei por ter sido mal influenciado por vocês, editores udi-grúdi, quando vocês mesmos tiveram seus carrascos morais, fãs que eram de Crumb, Jodoróvisk, Crepax, e sem nos esquecermos da nefasta cultura do roc’n’roll, da qual todos somos vítimas. Enfim, vocês também já haviam sido incentivados a seguir os péssimos caminhos do materialismo ateu e hedonista, fascinados que ficaram com aqueles notáveis artistas. Se realmente houvesse algum outro culpado pelos meus próprios males, que não fosse eu mesmo, seriam aqueles primeiros senhores, e não vocês.

Portanto, eis aqui meu pedido de desculpas para os leitores que se assustaram, ou se indignaram com aqueles textos que escrevi a respeito das revistas udi-grúdi. Vocês têm mesmo razão em ficar assustados, indignados, desapontados, enraivecidos. Finalmente reconheço, agora, que o maior culpado pela minha decadência moral fui eu mesmo, e não aqueles autores que me influenciaram no passado. Por isso os acusei de forma indevida. E, eu que sequer os conheço pessoalmente, quem garante que já não estejam arrependidos do que fizeram no passado? Dos tremendos sofrimentos que a vida já lhes impôs? Ninguém tem o direito de sofrer os ataques que desferi naqueles artigos.

Portanto, vou parar, definitivamente, de falar sobre este assunto. Faço mais uma vez meu pedido de desculpas pela forma como escrevi aqueles artigos, condenando e julgando meu semelhante, com ódio no coração. Não quero mais sentir sensações como estas, e doravante me esforçarei para seguir com mais afinco e disciplina os caminhos de Jesus, e deixar o passado cada vez mais esquecido. Os colegas que promovem eventos, premiações, debates, etc., por favor peço que não me convidem para uma mesma ocasião em que estiverem os artistas udi-grúdi (mesmo porque, ainda que for convidado, não irei). Não se trata do famoso “perdôo mas não esqueço!”, que na verdade ainda é falta de perdão; mas é que, depois de tudo que foi feito, tudo que foi falado e escrito, melhor dar tempo ao tempo... muito antes dessas crônicas, eu já era um facínora das letras, que vez por outra atacava algum irmão de jornada, gratuitamente, só porque discordava de alguma opinião. Uma das minhas vítimas no passado, hoje se tornou um amigo formidável. Que me perdoou – coisa que ainda eu não consegui fazer plenamente, a respeito dos artistas udi-grúdi. Mas como se viu, diante deste outro exemplo, quem sabe no futuro?

Prometo que só estarei falando de coisas agradáveis, daqui pra frente. (JS)